sexta-feira, 28 de abril de 2017

Conto: O Dom



O Dom

Henrique é um garoto normal, como eu, como você, gosta de conversar sentado na calçada da rua com os amigos, de jogar bola no campinho e beber ‘refri’ na garrafa. Como a adolescência está chegando, também tem se interessado por meninas. Não qualquer menina, gostava de pensar que um dia conheceria uma linda, inteligente e que também gostasse de jogos de videogame. Só que, até ela aparecer, paquerava as dá escola mesmo. Porque era o que todos os colegas faziam, e não queria que eles soubessem que ele aguardava a 'tal’ garota.
Mas apesar da vida normal, da aparência normal, de ser igual a todos nós, Henrique tinha um dom, um dom especial.
Não era algo que ele controlasse, apenas acontecia. Muitas vezes isso mudava a vida das pessoas. Ele, eu acho, que nem percebia.
Quando tinha seis anos de idade, um belo dia disse a sua mãe que tinha muitos amigos brincando com ele no quintal de casa, a mãe não deu muita, bola já que sabia que toda criança tem amigos imaginários, porém, os tais amigos​ dele não eram imaginação. Eram reais, mas só ele podia ver. Com o passar do tempo e com as falas do filho a mãe percebeu que algo de diferente acontecia com seu menininho, ele tinha mediunidade.

Falava, via, conversava e sonhava com espíritos. Por sorte, Henrique tinha uma família muito boa que não fez de sua vida um inferno por isso, pelo contrário, tanto sua mãe como seu pai, buscaram compreender aquilo. Liam livros e buscaram ajuda em centros espíritas. Assim, Henrique pode crescer achando tudo muito normal. Os espíritos vinham e lhe davam inspiração lhe ensinavam coisas do mundo espiritual e hoje ele desenvolve sua mediunidade num centro orientado por uma senhora. Uma velhinha de quase 80 anos, Dona Bibi. Ela comanda um centro espírita e é uma das mentoras de Henrique. A empatia entre eles foi imediata. Logo se via que eles já se conheciam de algum outro lugar ou vida (claro). E assim, Henrique viveu dos seis, aos agora, catorze anos entre o mundo espiritual e os jogos de videogame e pelada com os amigos.
Com certeza você deve estar pensando que ver e falar com espíritos seja o tal dom de Henrique. Engano seu, ver espíritos é uma das qualidades dele, uma particularidade que, com certeza, lhe dá condições de ajudar outras pessoas. Mas não é isso que o torna especial. Até porque mediunidade todos nós temos em níveis variados, expressos ou não, os temos.
Henrique tinha um dom e como falei ele não percebia. O que o tornava ainda mais especial.
Toda vez que ele via alguém sozinho e aparentando certa tristeza, ou se via alguma criança menor chorando, ou ainda, se sentia simpatia por alguém, ele se aproximava e antes de qualquer coisa, de qualquer ato ou palavra ele sorria, um sorriso largo, aberto, sincero, cheio de compaixão e entusiasmo, um sorriso amigo e reconfortante. Seus olhos se iluminavam, sua face, às vezes parecia até se modificar conforme o caso. Se tinha a sua frente uma criança seu rosto ficava ainda mais jovial. Se era um senhor de meia idade ou um velhinho seu rosto amadurecia, e ele tinha um ar de mais idade. Era inexplicável. E esse era seu dom. Com um simples sorriso tornar um momento de tristeza, de dor ou uma lamentação em outro sorriso. Nunca vi ele doar um sorriso e a pessoa do outro lado não retribuir, por mais dor, medo ou o que quer que fosse que estivesse sentindo. Era como um efeito colateral, Henrique sorria e todos sorriam de volta. E a partir dali uma conversa se iniciava.
Conversas podem aliviar, clarear um momento ruim, podem até mesmo curar. Mas era o sorriso de Henrique que abria espaço para que isso acontecesse. A conversa era uma consequência.
Na verdade já vi pessoas saírem sorrindo após ele sorrir para elas e nem se quer se falarem. Como se a comunicação tivesse sido apenas por sorrisos amigos.
Henrique não admitia ou n percebia, tão natural lhe era sorrir, mas ele salvou vidas assim. Salvou a minha. Hoje sei q mesmo tendo outros tantos dons, esse é seu maior legado. Sorrir para salvar vidas, restaurar sentimentos, renovar corações.
Henrique tem uma missão, mostrar para as pessoas que um sorriso, apenas um, pode transformar o mundo de alguém. Quem sabe até o mundo a nossa volta.
De sorriso em sorriso ele vai caminhando crescendo e iluminando o caminho por onde passa.
Uma vez ouvi ele dizer numa roda de amigos, por brincadeira - como disse ele nem perceba este dom, disse aos companheiros a sua volta:
“Sorria você não está sendo filmado mas sorrir faz muito bem, seja pelo motivo que for ou até mesmo pela falta de um.”
E eu acredito nisso.

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